Movimento dos Sem Terra
- LM
- 6 de set. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 21 de set. de 2020

“Amanhã já não podemos brincar. Vou para a terra de férias”. Esta foi uma frase que marcou a minha infância. Enquanto criança não tinha possibilidade de ir para campos de férias ou ter duas semanas de férias no Algarve. O Verão significava idas esporádicas à praia e longas brincadeiras na rua. Pelo menos até meados do Verão. Depois acontecia o tal fenómeno resultante do êxodo rural dos anos 60 em Portugal – os meus amigos iam de férias para a terra. Quando me diziam isto não sabia muito bem o que significava, e muito provavelmente eles também não. Eles vão para a terra, deve ser um sítio fixe, pensava eu. Ficava triste porque ficava sem os amigos e sem os companheiros para celebrar o meu aniversário no final do mês. Mais tarde percebi porque os meus amigos iam para a terra e eu não. Isto é porque eu não tenho terra. Esta é a cruel verdade.
Daí a necessidade de criar este movimento: para legitimar e valorizar quem como eu nasceu em Lisboa e/ou tem pais que nasceram em Lisboa e/ou não têm ligação a nenhuma zona rural à qual regressar no calor de Agosto. A todas as pessoas neste grupo: amigos, eu ouço-vos, estou convosco nesta luta, vocês não estão sozinhos.
Sei que é difícil. Primeiro porque a frase ‘Vou para a terra’ desperta em mentes dadas à ilusão cenários idílicos dignos das montanhas verdes da Heidi e do Marco. Eu imaginava sempre uma mistura campo e praia, com animais rurais, ondas de mar sem fim, parques aquáticos e muitas crianças com quem brincar. Estes cenários são muito fáceis de criar principalmente quando se está aborrecido. E os Verões na cidade são incrivelmente aborrecidos. Felizmente após muitos anos, quando já estava a resignar-me à minha sina, arranjei uma terra por afinidade. E este ano pude finalmente dizer: ‘Vou para a terra’. Em Agosto, tal como manda a tradição.
E é exatamente tudo o que imaginava em criança.
Menos os parques aquáticos vá.
Na foto: Castaínço, Penedono, Viseu
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